Sobre coisas soltas...

Notas de um feriado
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Estou ouvindo um amigo cantar. Está tão frio fora da janela. Meus pés doem. Estou estranhamente cansada. Não são os trabalhos que me incomodam. Eles estão correndo no seu devido tempo. É esse tédio. É uma vontade de sair por aí tirando fotos de coisas lindas e coloridas. Mas só enxergo o cinza. Onde essas pessoas buscam inspiração? Como é que eu faço para sorrir? Até sei os movimentos, mas eles me parecem falsos, forçados.
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E agora, José?
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O vídeo acabou. Porque é um vídeo? Porque finais de semana prolongados são tão tristes? E eu sempre peço tanto por eles. Só que esse descanso me cansa tanto...
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Meu olhar pára sobre o lápis que ganhei da minha vó. Anda um pouco pelo quarto. Trabalho de pé que o pé não quer fazer. Pena... Tenho duas penas no meu quarto. Uma de pavão, já bem velha. Minha mãe tinha loucura para arrancar pena de pavão. Até que um dia uma caiu aos seus pés... Mas gosto mais da outra pena. Ela é branquinha. Não sei nem de que ave é... Eu gosto da inclinação dela, na verdade. É de uma elegância tão sutil...
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Reticências... Eu tinha parado com essa mania, não tinha? Era uma coisa de menina boba. Até que começaram a me falar que me deixava com um ar triste. De início nem liguei, mas acho que agora elas assumiram esse viés... É estou triste. É aquela sensação de estar deslocada de novo. Porque eu não posso me sentir bem ao lado das pessoas com as quais eu quero me sentir bem?
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Eu já aprendi tanto com essa sensação. Aprendi que tenho a tendência a não enxergar meus amigos verdadeiros até que algo ocorra. Aprendi que, se pudesse, escolheria sempre as pessoas erradas para estarem ao meu lado. Aprendi que ainda tenho que aprender a olhar mais para o lado. Porque eu não sei escolher? Porque tem gente que me escolhe? Ou será que não escolhem? Talvez tudo simplesmente aconteça. E de repente, não mais que de repente, as pessoas se descobrem amigas...
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Agora, veja bem meu querido leitor[1], vale a pena refletir porque as pessoas gostam umas das outras. Um dia, discordei de duas amigas minhas que estavam falando que sempre há interesse. Nem sei o porquê da discordância, afinal, eu concordava. Mas não sei se acredito agora. Ao menos não acho que seja 100% interesse e nem que haja interesse em 100% das vezes. Só de vez em quando... Eu acreditava também em critérios absurdos que aproximavam as pessoas (como o fato de eu gostar da pena por ela parecer elegante). Talvez seja esse o meu erro em relação às pessoas que eu escolheria num primeiro momento. Isso pode parecer preconceituoso e, sinceramente, é. Depois eu me culpo eternamente quando percebo que aquela menina que me parecia vulgar e exagerada é despojada e divertida. Ou que aquele menino que me parecia o cúmulo do irritante e sem-noção é muito engraçado. E sim, já fiz as duas coisas. Também já achei que uma pessoa era sincera e bem-educada e acabei me deparando com uma pessoa direcionadora e grossa.
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Mas quem sou eu para falar da grossura dos outros? Eu que sempre me esqueço de cumprimentar as pessoas. Eu que brigo à toa. Eu que sou tão mandona e metida...
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Pausa para diagramação do impresso. Aproveito e deixo o link para mais uma matéria de rádio minha.
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Voltando. São duas da manhã e perdi o fio da meada. Enfim, já que falei de rádio vou por esse caminho agora. Rádio me lembra que tenho sorte. Se eu tivesse conseguido estágio na rádio aqui perto de casa (o estágio perfeito, eu acreditava), eu estaria muito perdida e mal paga agora. Ultimamente ando acreditando muito no meu azar e, quando percebo, escapei de algo muito maior do que levar uma bronca de um motorista de ônibus. Por isso tenho deixado o destino se encarregar de certas questões fundamentais. O que não quer dizer que eu não me preocupe com elas, afinal, não estaria escrevendo esse texto se não estivesse me sentindo sozinha e com os pés gelados.
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Dou uma olhada por cima no que escrevi até agora. Nunca consigo reler verdadeiramente os meus textos. É por isso que tenho vergonha dos meus desabafos. Porque eles não me representam de verdade. São momentos de exagero. Mas outro dia fiquei feliz ao reler um e-mail muito antigo e perceber que havia um pouco de mim naquele desespero.
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E quem sou eu? Sou uma pessoa que tem dificuldades em escrever o próprio perfil no Orkut. Uma menina que se chama de menina, mas odeia ser tratada como criança e acha, no mínimo, inusitado ser chamada de mulher. Já não deveria ter passado dessa fase? É estranho, mas eu lidei muito bem com certas questões sérias para muita gente. Encalhei em questões bobas. E tenho rê-caídas de insegurança que nem eu acredito depois. O que é esse texto senão insegurança de escrever sobre o que eu gostaria? O que são aquelas postagens tolas com letras de música que eu nem ouço de verdade? Porque eu me incomodo por não me sentir bem-vinda ao lado de algumas pessoas que eu nem sei quem são? Porque a minha mãe queria uma pena de pavão se ela fica tão sem graça sozinha, velha e acabada?
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Sozinha, velha e acabada. Essas palavras são tão cruéis. Embora não haja nada de errado com a solidão, com a velhice, com o fim... É algo do que eu, sinceramente, tenho medo. Tenho mais medo da solidão que da morte. Mais medo da solidão que do medo. Isso é insensatez? É um medo que me motiva a escrever e que não assusta tanto enquanto as luzes estão acesas. Elas estão acesas agora e penso que meus amigos rirão de mim. Verdade, rirão. Mas só alguns irão rir apontando. Outros só quando tiver alguém para apontar. Alguns, até farão comentários sérios aqui no blog mesmo ou pessoalmente. Eu sei quem são e até posso imaginar.
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E agora não tenho medo. Tenho um pisca-pisca de natal feliz[2] dentro de mim que brilha com as carinhas que sempre estão do meu lado (literalmente ou não) quando preciso de companhia. E prefiro terminar o texto assim, para variar. Com uma notinha de esperança. Até mesmo porque estou com sono, mas ainda indecisa se espero ou não mais material para diagramar.
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[1] Tem gente que não gosta, mas eu acho essa frase tão legal! Quanto ao querido, bom, eu não gosto de falar esse tipo de coisas para todo mundo, mas uma vez que você está se dando ao trabalho de ler até essa nota de rodapé inútil, acho válido.
[2] Droga, meus sentimentos ficam muito ridículos quando “traduzidos” para objetos.

4 comentários:

  1. Oi, Re!
    Não sei se estou entre as pessoas que você achava que iriam passar por aqui e dizer coisas sérias. De qualquer modo,aqui estou.
    Não gosto de te ver triste. Sim, todos temos direito aos nossos dias cinzentos, mas eles passam, sempre passam. Portanto, fique bem. Assista a um bom filme (hoje ganhei Curtindo a vida a doidado), ouça uma boa música, veja vídeos bobos no Youtube (recomendo Jerrey Jackson). Amanhã tudo estará melhor.
    Beijo e bom fim de semana.

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  2. Regatinha!

    Neste feriadão pensei em vc três vezes.

    A primeira com RAIVA quando a pilha do meu gravador acabou antes de eu transcrever as sonoras. (Mas sem estresse, já comprei outras, embora tenha postado a matéria desfalcada mesmo.)

    A segunda com INVEJA, porque vc vai ver Romeu e Julieta. E de graça ainda...

    A terceira com INTERESSE quando vim ao seu blog buscar inspiração para atualizar o meu próprio. E que merda de texto é esse, hein? Feriado é dia de alegria! (Olha quem fala, passei os últimos três dias enrolada num cobertor depressiva e sozinha.)

    Anyway, vou te dar um abração quando nos encontrarmos. E olhe que legal, acho que vai ser na aula do Jair. Viu, minha relação com vc é só permeada por coisas boas: raiva, inveja, interesse e Jair. Oho!

    Ainda tem domingo!

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  3. Isto só é por hoje.

    Sei que você é séria com os seus sentimentos. Porém, até mesmo para eles, não deveríamos ser tão sérios.

    Ás vezes quando leio tais textos, fico pensando se você sente mais prazer em viver triste (a muito tempo tenho esta impressão), do que lutar pela sua felicidade. Não digo lutar no sentido de procurar, correr atrás ou qualquer coisa similar. As melhores vitórias são aquelas que você tenha feito apenas um esforço - o de esperar.

    Você é uma pessoa que tem uma vida "melhor" que a minha, em alguns sentidos. No meu caso, poderia viver triste por inúmeras situações que estão acontecendo comigo ultimamente (vide novo post em breve). Mas mesmo assim, acredito em apenas uma coisa: amanhã é outro dia. Preocupe-se mais em sentir-se feliz com as coisas que não dependam de um grande esforço para existirem.

    Quando você se der conta nos momentos felizes, irá perceber que a tristeza da vida é boa apenas para uma coisa: perceber que a felicidade está a nossa volta - bastando apenas observar melhor a nossa vida. E aí, sim, você se sentirá idiota por ter dado corda a tristeza...

    É comlicado. Mas não seria vida.

    Depois a gente conversa melhor...

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  4. ô, Evandro, vê se pára de escrever comentários maiores que os meus!

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