O que fevereiro tem?
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Fevereiro, ao menos por aqui, é o mês do cinema. É a época em que as distribuidoras lançam os filmes que mais fizeram sucesso e/ou chamaram a atenção nos festivais mais importantes (ou mais comerciais, depende da interpretação). E, claro, fevereiro é o mês da maior festa do cinema mundial: a cerimônia do Oscar. Não importa qual a sua posição em relação à Industria Cultural, o Oscar é um grande símbolo, um grande mito, uma grande festa, uma grande premiação. E como esse é o mês do careca dourado, eu me rendo a ele e dedico alguns posts desse humilde blog para comentar os filmes indicados.
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Começando pelos menores. Os curtas. Pouquíssimo vistos, justamente por serem menos comerciáveis dentro dessa estrutura milionária (e praticamente parada devido à greve dos roteiristas), os curtas não deixam de ter sua importância cinematográfica tanto pela sua linguagem quanto pelo fato de serem um dos principais modos de descobrir novos talentos. No dia 24 de fevereiro, três curtas serão premiados.
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Na categoria de documentário são quatro concorrentes estadunidenses e nenhuma surpresa em relação às temáticas. Freeheld tem um casal de lésbicas, uma vai morrer e quer deixar a casa e a pensão para a parceira. La Corona é falado em espanhol, uma tendência forte como já havia previsto o exterminador antes de ser governador, e mostra uma competição de criminosas. Salim Baba é falado em bengali e trata sobre o próprio cinema, mas em um cenário diferente: o norte de Calcutá. Por fim, Sari’s Mother é uma parceria com o Iraque e mostra uma mãe tentando cuidar de um menino de 10 anos prestes a morrer de AIDS.
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Os curtas de animação, por sua vez, são os que mais revelaram talentos nos últimos anos. Os indicados desse ano mostram que animação não é necessariamente para crianças (algo que os animadores estão tentando fazer a tempo, mas que só está tendo um êxito relativo agora) e, principalmente, que não é necessariamente estadunidense já que nenhum (sim, nenhum) dos indicados é da terra do Tio Sam. I met the Walrus é canadense e fala sobre a morte de John Lennon. Do mesmo país veio Madame Tutli-Putli que mostra uma viagem de trem e de auto-conhecimento. Même les Pigeons Vont au Paradis é francês e brinca com a religião e a entrada no paraíso (além de ter pose de favorito). Moya Lyubov é russo e conta a história do envolvimento de um homem com duas mulheres, uma morena e uma loira. Já Peter and the Wolf é uma parceria britânica e polonesa contando uma história russa sobre um menino que mora com o avô e encontra um lobo.
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A tendência de ser uma festa mais mundial que americana continua perceptível na categoria de melhor curta de ficção, com apenas um competidor norte-americano. Obviamente essa ilusão só existe nas categorias menores (o trocadilho fica por sua conta). At Night é uma típica história nova-iorquina com estranhos se encontrando e tudo o mais. Il Suplente é a única participação do cinema italiano na festa (o que não deixa de ser triste) e mostra um professor substituto meio estranho. Le Mozart des Pickpockets é mais uma participação francesa e relata a história de um garoto e três ladrões de carteira. Tanghi Argentini é um filme belga e mescla tango, encontros amorosos e internet com uma boa dose de natal para adoçar. The Tonto Woman, por mais estranho que pareça é um faroeste do Reino Unido filmado na Espanha (para deixar ainda mais clara a referência ao Zorro e porque o cenário é bem mais legal) onde a personagem principal é uma mulher.
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Continuando no cenário internacional, há uma categoria onde, obviamente, não há sombra da bandeira listrada com estrelinhas: Melhor Filme Estrangeiro. Israel, Áustria, Polônia, Rússia e Cazaquistão estão muito felizes por terem selecionado seu filme favorito! O Brasil vai ter que deixar para o ano que vem já que O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias não agradou a Academia. O representante de Israel é Beaufort baseado em um livro sobre um grupo de soldados que participa da retirada do Líbano em 2000. Já o austríaco Die Fälsher (na festa será chamado de The Counterfeiters) é baseado na história real da maior operação de falsários da história feita pelos nazistas em 1936. A segunda guerra também aparece no polonês Katyn, embora esse trate da invasão russa no país. Continuando o ciclo, o representante russo 12 fala sobre 12 jurados que decidem o destino de um homem que matou seu padrasto. Continuando na Rússia, o Cazaquistão, em parceria com a própria Rússia, a Alemanha e a Mongólia, relata a vida de Genghis Khan, que foi escravo e se tornou um grande conquistador de terras (incluindo a Rússia que derrotou tantos outros) no filme Mongol.
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Se até agora tudo o que eu escrevi foi grego, finalmente aparece um nome conhecido e filmes já premiados. Sicko, de Michael Moore, por incrível que pareça, é o único filme na categoria de melhor documentário que não fala de guerra. S.O.S. Saúde, título brasileiro, compara a indústria da saúde americana com a de outras nações, sempre criticando Bush, claro. Já Taxi to the Dark Side (Taxi para a Escuridão, em português) procura fazer uma análise aprofundada nas torturas praticadas no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo. Menos profundo, mas não menos interessante, é No End in Sight que procura dar um olhar compreensivo sobre as decisões de Bush na ocupação do Iraque. Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience, por sua vez, retrata a guerra no Iraque e no Afeganistão baseando-se nos escritos dos soldados. A mudança de cenário ocorre com War Dance que mostra a vida de crianças em um campo de refugiados na Uganda.
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E já que agora o território do Oscar foi retomado pelos americanos, a categoria de longas de animação se atreve a dar as caras. Embora os desenhos continuem não tão americanos assim. Persepolis (com acento na parte de cá da América) é um filme francês sobre uma menina iraniana (agreço a correção da Alice), sendo que a menina em questão é a própria diretora e a autora dos quadrinhos em que o filme se baseia. E se o filme francês se passa no Irã, o americano se passa na França. Ratatouille foi a animação mais falada e mais rentável de 2007, seguindo a trilha de sucessos de Brad Bird, e conta a história de um ratinho cozinheiro. Alguém me explica porque ratos e animações combinam tanto? Já Surf’s Up (Tá Dando Onda) segue a linha evolutiva da animação digital. Primeiro surgiram os insetos, depois os peixes, depois os animais da floresta e, agora, os pingüins. O do filme, no caso, é um exímio surfista que vai participar de um grande campeonato.
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Uma vez que Ratatoille foi mencionado, não posso esquecer outra de suas cinco indicações (sim, Brad Bird está podendo). E os indicados para melhor trilha sonora são: Michael Giacchino pela França feliz de Ratattoille; Dario Marianelli pelo filme de época inglês Atonement que tem cara de história de Jane Austen, mas não é (o fato dele ter feito a trilha de Pride and Prejudice, o elenco e o nome do filme em português – Desejo e Reparação – ajudam no engano); Alberto Iglesias pelos arabescos musicais e delicados de The Kite Runner; James Newton Howard pelo bem cotado Michael Clayton; Marco Beltrami pelo violento 3:10 to Yuma.
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Mas não é só do conjunto que vive o cinema. Belas canções também têm o seu valor. Nesse aspecto, as animações da Disney fizeram história e, nesse ano, voltam a aparecer, repaginadas, mas voltam. Alan Menken e Stephen Schwartz colocaram três canções de Enchanted (Encantada) na disputa: “Happy Working Song”, “So Close” e “That’s How You Know”. Mais Disney, impossível. Na briga estão “Falling Slowly” de Glen Hansard e Markéta Irglová para o irlandês Once e “Raise it Up”, interpretada por Jamia Simone Nash e Impact Repertory Theater no romântico August Rush (O Som do Coração).
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Bom, por hoje é só. Em breve mais categorias técnicas e é claro que o melhor vai ficar para o final. Só falta apontar uma injustiça. Sweeney Todd: The Damon Barber of Fleet Street não entrou em nenhuma categoria relacionada à música ou som e o filme é simplesmente perfeito nesse quesito.
Fevereiro, ao menos por aqui, é o mês do cinema. É a época em que as distribuidoras lançam os filmes que mais fizeram sucesso e/ou chamaram a atenção nos festivais mais importantes (ou mais comerciais, depende da interpretação). E, claro, fevereiro é o mês da maior festa do cinema mundial: a cerimônia do Oscar. Não importa qual a sua posição em relação à Industria Cultural, o Oscar é um grande símbolo, um grande mito, uma grande festa, uma grande premiação. E como esse é o mês do careca dourado, eu me rendo a ele e dedico alguns posts desse humilde blog para comentar os filmes indicados.
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Começando pelos menores. Os curtas. Pouquíssimo vistos, justamente por serem menos comerciáveis dentro dessa estrutura milionária (e praticamente parada devido à greve dos roteiristas), os curtas não deixam de ter sua importância cinematográfica tanto pela sua linguagem quanto pelo fato de serem um dos principais modos de descobrir novos talentos. No dia 24 de fevereiro, três curtas serão premiados.
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Na categoria de documentário são quatro concorrentes estadunidenses e nenhuma surpresa em relação às temáticas. Freeheld tem um casal de lésbicas, uma vai morrer e quer deixar a casa e a pensão para a parceira. La Corona é falado em espanhol, uma tendência forte como já havia previsto o exterminador antes de ser governador, e mostra uma competição de criminosas. Salim Baba é falado em bengali e trata sobre o próprio cinema, mas em um cenário diferente: o norte de Calcutá. Por fim, Sari’s Mother é uma parceria com o Iraque e mostra uma mãe tentando cuidar de um menino de 10 anos prestes a morrer de AIDS.
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Os curtas de animação, por sua vez, são os que mais revelaram talentos nos últimos anos. Os indicados desse ano mostram que animação não é necessariamente para crianças (algo que os animadores estão tentando fazer a tempo, mas que só está tendo um êxito relativo agora) e, principalmente, que não é necessariamente estadunidense já que nenhum (sim, nenhum) dos indicados é da terra do Tio Sam. I met the Walrus é canadense e fala sobre a morte de John Lennon. Do mesmo país veio Madame Tutli-Putli que mostra uma viagem de trem e de auto-conhecimento. Même les Pigeons Vont au Paradis é francês e brinca com a religião e a entrada no paraíso (além de ter pose de favorito). Moya Lyubov é russo e conta a história do envolvimento de um homem com duas mulheres, uma morena e uma loira. Já Peter and the Wolf é uma parceria britânica e polonesa contando uma história russa sobre um menino que mora com o avô e encontra um lobo.
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A tendência de ser uma festa mais mundial que americana continua perceptível na categoria de melhor curta de ficção, com apenas um competidor norte-americano. Obviamente essa ilusão só existe nas categorias menores (o trocadilho fica por sua conta). At Night é uma típica história nova-iorquina com estranhos se encontrando e tudo o mais. Il Suplente é a única participação do cinema italiano na festa (o que não deixa de ser triste) e mostra um professor substituto meio estranho. Le Mozart des Pickpockets é mais uma participação francesa e relata a história de um garoto e três ladrões de carteira. Tanghi Argentini é um filme belga e mescla tango, encontros amorosos e internet com uma boa dose de natal para adoçar. The Tonto Woman, por mais estranho que pareça é um faroeste do Reino Unido filmado na Espanha (para deixar ainda mais clara a referência ao Zorro e porque o cenário é bem mais legal) onde a personagem principal é uma mulher.
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Continuando no cenário internacional, há uma categoria onde, obviamente, não há sombra da bandeira listrada com estrelinhas: Melhor Filme Estrangeiro. Israel, Áustria, Polônia, Rússia e Cazaquistão estão muito felizes por terem selecionado seu filme favorito! O Brasil vai ter que deixar para o ano que vem já que O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias não agradou a Academia. O representante de Israel é Beaufort baseado em um livro sobre um grupo de soldados que participa da retirada do Líbano em 2000. Já o austríaco Die Fälsher (na festa será chamado de The Counterfeiters) é baseado na história real da maior operação de falsários da história feita pelos nazistas em 1936. A segunda guerra também aparece no polonês Katyn, embora esse trate da invasão russa no país. Continuando o ciclo, o representante russo 12 fala sobre 12 jurados que decidem o destino de um homem que matou seu padrasto. Continuando na Rússia, o Cazaquistão, em parceria com a própria Rússia, a Alemanha e a Mongólia, relata a vida de Genghis Khan, que foi escravo e se tornou um grande conquistador de terras (incluindo a Rússia que derrotou tantos outros) no filme Mongol.
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Se até agora tudo o que eu escrevi foi grego, finalmente aparece um nome conhecido e filmes já premiados. Sicko, de Michael Moore, por incrível que pareça, é o único filme na categoria de melhor documentário que não fala de guerra. S.O.S. Saúde, título brasileiro, compara a indústria da saúde americana com a de outras nações, sempre criticando Bush, claro. Já Taxi to the Dark Side (Taxi para a Escuridão, em português) procura fazer uma análise aprofundada nas torturas praticadas no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo. Menos profundo, mas não menos interessante, é No End in Sight que procura dar um olhar compreensivo sobre as decisões de Bush na ocupação do Iraque. Operation Homecoming: Writing the Wartime Experience, por sua vez, retrata a guerra no Iraque e no Afeganistão baseando-se nos escritos dos soldados. A mudança de cenário ocorre com War Dance que mostra a vida de crianças em um campo de refugiados na Uganda.
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E já que agora o território do Oscar foi retomado pelos americanos, a categoria de longas de animação se atreve a dar as caras. Embora os desenhos continuem não tão americanos assim. Persepolis (com acento na parte de cá da América) é um filme francês sobre uma menina iraniana (agreço a correção da Alice), sendo que a menina em questão é a própria diretora e a autora dos quadrinhos em que o filme se baseia. E se o filme francês se passa no Irã, o americano se passa na França. Ratatouille foi a animação mais falada e mais rentável de 2007, seguindo a trilha de sucessos de Brad Bird, e conta a história de um ratinho cozinheiro. Alguém me explica porque ratos e animações combinam tanto? Já Surf’s Up (Tá Dando Onda) segue a linha evolutiva da animação digital. Primeiro surgiram os insetos, depois os peixes, depois os animais da floresta e, agora, os pingüins. O do filme, no caso, é um exímio surfista que vai participar de um grande campeonato.
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Uma vez que Ratatoille foi mencionado, não posso esquecer outra de suas cinco indicações (sim, Brad Bird está podendo). E os indicados para melhor trilha sonora são: Michael Giacchino pela França feliz de Ratattoille; Dario Marianelli pelo filme de época inglês Atonement que tem cara de história de Jane Austen, mas não é (o fato dele ter feito a trilha de Pride and Prejudice, o elenco e o nome do filme em português – Desejo e Reparação – ajudam no engano); Alberto Iglesias pelos arabescos musicais e delicados de The Kite Runner; James Newton Howard pelo bem cotado Michael Clayton; Marco Beltrami pelo violento 3:10 to Yuma.
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Mas não é só do conjunto que vive o cinema. Belas canções também têm o seu valor. Nesse aspecto, as animações da Disney fizeram história e, nesse ano, voltam a aparecer, repaginadas, mas voltam. Alan Menken e Stephen Schwartz colocaram três canções de Enchanted (Encantada) na disputa: “Happy Working Song”, “So Close” e “That’s How You Know”. Mais Disney, impossível. Na briga estão “Falling Slowly” de Glen Hansard e Markéta Irglová para o irlandês Once e “Raise it Up”, interpretada por Jamia Simone Nash e Impact Repertory Theater no romântico August Rush (O Som do Coração).
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Bom, por hoje é só. Em breve mais categorias técnicas e é claro que o melhor vai ficar para o final. Só falta apontar uma injustiça. Sweeney Todd: The Damon Barber of Fleet Street não entrou em nenhuma categoria relacionada à música ou som e o filme é simplesmente perfeito nesse quesito.
Tava lendo seu blog, e parei porque prefiro não ler nenhuma crítica a filmes que ainda não vi. Virou uma síndrome do pânico. Mas você me arrancou uma risada com "o mês do careca dourado".
ResponderExcluirHum... O Oscar ainda terá este ano... Pensei que devido a greve, não haveria esta possibilidade...
ResponderExcluirEnfim, destes filmes que você mencionou, o único que assisti (e gostei muito por sinal) foi Ratatouille... Tenho uma queda por animações...
E acho que nunca assisti a um curta na vida (não consigo lembrar de algum)...
Mas gostei do post. Bem informativo, e dá até vontade de procurar mais sobre alguns indicados...
(Desculpa pela demora do comentário... =) )
Eu me pergunto pq o Oscar é sempre na véspera das aulas voltarem!
ResponderExcluirhahahaha
Tá, não sei se é sempre, mas quando não é o Oscar, é o Grammy!
Aliás, Rê, temos o Grammy também em fevereiro! :D
O Justin ganhou três prêmios esse ano!
Nós poderíamos combinar de ver todos esses filmes, não?
=P
Overdose \o/
Beeeijos :*
persepolis é sobre uma menina iraniana, do irã, e não iraquiana...
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