Uma breve biografia




João Augusto, 28 anos, negro, alto, morador de rua, usuário de maconha. Veio de São Paulo para Curitiba depois de passar por uma breve temporada na prisão e diz ter largado a cocaína há dois anos. Seu endereço atual é no calçadão da Rua XV de Novembro. Alega conhecer criminosos perigosos, inclusive do Primeiro Comando da Capital, o PCC.

O jeans está rasgado e as pessoas evitam olhar para ele quando passam por perto. Ele conta para quem quiser ouvir sobre as estratégias de aliciamento do PCC e seu tempo na prisão ou em diversas instituições de recuperação de drogados. Consegue comida nas lanchonetes, onde alguns atendentes dão pão com manteiga. Os donos não se importam. Preferem manter uma relação cordial com os moradores de rua a fazer confusão.

Na igreja, João Augusto também é conhecido como um sujeito boa praça, calmo e um excelente cantor. Está considerando entrar para o coral e até participar de uns concursos onde poderá soltar a voz e mostrar suas composições. Intimamente, se considera um artista e ainda lembra dos tabefes que recebeu da mãe quando disse que queria parar de trabalhar para ir estudar música.

Nos tempos da escola, adorava as aulas de português e guarda com carinho as memórias da professora que trazia fotocópias de tirinhas para a sala de aula. Seu momento preferido, no entanto, era o recreio, quando ele e os amigos saíam para incomodar as meninas. Passavam a mão nas bundas das garotas só para ver elas pularem e xingarem, depois saíam correndo.

Um dia, o namorado de uma menina, que estudava no segundo grau, ameaçou encher o grupo todo de porrada. Eles nem perceberam que eram quatro contra um, imploraram para o zelador para que os deixassem sair mais cedo e escaparam antes do grandalhão chegar. Hoje em dia, ele ri quando lembra da história. Eram tempos divertidos.

A vida em Curitiba também não é fácil. Ele veio para se tratar do vício em cocaína, gostou da cidade e foi ficando. O único problema é a falta de emprego. Nas eleições passadas, até tinha conseguido alguma coisa, mas nada surgiu desde então. Sem ter onde morar, também não conseguia algo fixo – e sem estabilidade não encontrava lugar para morar. Mas a moça daquele café disse que iria dar uma ajuda e ele era muito agradecido.

Um comentário:

  1. Oi, Re! Que bom voltou a postar!
    Gostei muito do texto, é bom manter a prática literária viva, mesmo que nossa profissão tente matá-la a todo custo.

    Resistamos.

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