Texto são-joseense...

Pequenos causos
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Ricardo saiu do cursinho e foi andando até o terminal. Estava um dia chuvoso em São José e o terminal era um pouco longe. Mas gostava de caminhar, pegar um ônibus mais vazio e ir o caminho todo lendo. Até chegar em casa. De vez em quando olhava a paisagem, mas o caminho estava bem decorado.
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Todo dia, Marieta faz tudo sempre igual. Acorda às seis horas da manhã e vai caminhar. Dizem que o Urano está ficando muito violento, mas ela não liga. Não sai com dinheiro ou celular, apenas com a roupa de ginástica e a disposição. Tem gente que reclama da calçada também, ela não se importa. Tudo bem que ela está faltando em alguns pontos, mas nessas ruas o movimento não é tão grande.
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A família alega que Carlos é mal humorado. Ele nega. Só se acha no direito de reclamar daquilo que não está no seu agrado. O Jardim Aristocrata pode até ter um bom padrão, mas ele merece um pouco mais. Talvez, quem sabe, uma pintura nova na casa possa ajudar. O amarelo já saiu de moda.
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As melhores amigas Ana e Bia são as meninas mais lindas e sapecas da vizinhança. Brincam na rua o dia inteiro. Nem as mães entendem: estudam na mesma sala, moram na mesma rua e não se desgrudam. Outro dia, num momento de distração, as pequenas entraram no Curitiba/Independência. A vizinha que viu e saiu correndo atrás do ônibus. Estavam passando a conversa no cobrador.
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Samantha não contava pra ninguém no trabalho sobre o que fazia nos finais de semana. Até que um dia, um colega viu. Aquela moça, sempre bonita e bem arrumada, alternava os produtores para experimentar vinho na Colônia Mergulhão, já estava até ficando conhecida. Mas ele não contou pra ninguém. Também era “econômico”.
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É gostoso trabalhar no oitavo andar. Augusto, pelo menos, acreditava nisso. Podia olhar lá para baixo e ver toda a cidade. Não há ainda muitos prédios altos como esse e – ele esperava – talvez nunca a cidade fique como Curitiba. É melhor assim, tendo uma vista boa que vai até lá longe... Seu ponto preferido é o aeroporto.
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Os alunos do professor Olegário adoravam rir do nome dele. Riram ainda mais quando descobriram que ele morava no Barro Preto. Meninos bobos do centro não sabem nada da vida.
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Depois do trabalho, Renata pega o ônibus em baixo da Ponte Preta, lá em Curitiba. De início, ela nem reparava, mas só depois notou como pouco conhecia os bairros de São José. Sentiu vergonha, afinal, morou na cidade durante todos os 21 anos de sua vida. Atualmente, sua maior curiosidade é conhecer o Quississana. Ou seria Quisisana? Ou Quissisana?
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Uma das melhores lembranças da vida do catarinense Zecão foi quando trabalhou de estagiário numa escola da Malhada. Ficou amigo de uns alunos que sempre davam de presente alguma coisa gostosa, plantada na horta da família. No final das contas, ele nem terminou a faculdade de Educação Física, mas, como todo bom professor, casou com uma aluna.

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