Mantendo o foco
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Nardela. Nome feio e horroroso. Brega. A madrinha caipira que escolheu. O pai diz que é bom para mocinha rica ter nome do interior. Fica mais humilde. Ficou sendo Nar, para os íntimos, para os conhecidos, para qualquer um. Nardela jaz esquecido.
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O drama de Nar não é esse. Já foi a época em que se preocupava com o que o menino bonitinho iria pensar depois que soubesse o nome dela. Loira mais ou menos natural com cabelo liso de nascensa, olhos castanhos marcados pelas sombrancelhas bem feitas. Carro zero. Óculos de sol italiano. Enfim, homem não faltava. Homem sobrava.
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Algumas amigas reclamavam que todos os bonitos estavam ocupados ou eram gays (ou ambos). Nar concordava. Seu namorado não era exatamente um Brad Pitt. O ex era até mais apresentável, mas convivia com aqueles amigos suspeitos e ela não estava nem um pouco a fim de ser trocada por outro. Pulou fora bem antes do barco afundar.
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Na verdade, já estava a fim de partir para outra história. Não gostava muito mais do atual que do ex e saiu daquela história sem um único arranhão... Só gostava de ser a namorada para ter alguma estabilidade. Alguém para quem ligar no final do dia e com quem pudesse contar para acompanhá-la nas festinhas de sexta e sábado.
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Mesmo assim, Nar queria continuar. Via algum futuro naquele diploma de Administração de Empresas, mais do que no seu próprio, de qualquer forma. Precisava de uma estabilidade maior. O emprego atual até que paga bem, mas trabalho é algo com o qual não dá para contar amanhã. Vai saber... A vida a dois é mais segura.
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Ok, ok. Ela tinha que admitir que dessa vez gostava do namorado. Talvez fosse efeito de alguma carência passageira, mas não queria terminar a toa. Também não queria trair. Mas não é todo dia que se pode desperdiçar um cara como aqueles.
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Marcelo. Isso é que era nome bonito. E era bonito por inteiro. Desde os olhos até – ela imaginava – o dedão do pé. Calçava 42/43, ela tinha quase certeza. Pé de homem. Muito mais bonito que aqueles tamanho 39 do namorado. Dava até vergonha pensar que algumas amigas tinham pés do mesmo tamanho que o dele.
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Mesmo tirando esse detalhe essencial, aquele era um homem desejável. Não para passar o resto da vida, claro. Abobado demais para levar em algum lugar mais chique. Moleque ainda. Mais um dos amigos imbecis do namorado. Mas lindo. E ela tinha certeza que ele iria para a cama com ela se ela assim desejasse.
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Desejar, ela desejava. Só não queria admitir. Não era mulher de se deixar desperdiçar. Não tinha desprendimento para ser dividida nem para pertencer durante uma única noite.
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Aquilo a incomodava tremendamente. Não sabia o que fazer com aquele olhar magnético preso na memória. Bastava olhar para o namorado, falar com ele, pensar nele. Lá estava o outro, infernizando sua mente. Se não tivesse medo do vício, já teria traído. Só para se livrar da agonia.
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Isso não era um comportamento típico da sempre decidida Nardela. Um dia se pegou andando na rua com o olhar baixo. Cúmulo. Olhos erguidos sempre! As amigas estavam até estranhando. Ela precisava resolver isso logo.
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Foi mais fácil do que imaginava.
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– Marcelo, só por curiosidade, que número você calça?
– 39. Por quê?
– Por nada. Achei mesmo que era o mesmo número do excelentíssimo.
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39 por 39 ela ficava com o dela que já estava de bom tamanho. Ou quase.
Muito suspeita essa história...Vai que ela represente o fundo do seu âmago, e a sua vontade de ficar com outro
ResponderExcluirHumn... Estou de olho em você!