Momentos
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Faz algum tempo... Ninguém lembra como estava o clima. Provavelmente era um desses dias curitibanos chuvosos. Estavam conversando, só as duas. Aquela coisa de duas amigas que se gostam muito, que estão sempre próximas, mas que não andam com muitas confidências. Falta de tempo, discordâncias, aspectos mal esclarecidos em geral. Enfim, pequenas coisas que parecem ter abalado a amizade da outra em relação a uma, mas não a da uma em relação à outra (e vice-versa).
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A verdade é que o clima da conversa estava estranho, mas havia uma necessidade de amizade no ar. Uma necessidade de consolo de um lado e de demonstrar afeto de outro.
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Até que aconteceu a revelação e as duas tiveram a incrível oportunidade de esclarecer esse distanciamento não desejado sem precisar tocar nas causas do fato. O segredo não era bem secreto, era um desabafo. Uma dessas coisas que a pessoa deduz sobre si mesma e que a machuca toda vez que torna a perceber a falha. Enquanto uma amiga se sente a pior criatura da Terra, a outra consola oferecendo ombros desajeitados e palavras de conforto. “Não, você não é assim”. “Ninguém merece acreditar nessas coisas”. “Não acho que você precise passar por isso”.
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Embora o problema entre as duas parecesse resolvido, havia uma aura de plasticidade na cena. Desconfiança de ambos os lados. Na fragilidade forçada. Na ajuda por educação. Demorou até que as amigas pudessem voltar a se olhar nos olhos e realmente enxergar os olhos da outra. Sem lentes, sem películas, sem qualquer tipo de barreira.
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É estranho pensar que uma relação tão forte pudesse ser abalada dessa maneira, tão facilmente. Foi difícil fazer a reconstrução. Mas não impossível...
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Mudanças
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Ninguém havia avisado, mas ela já sabia. Sabia que era uma pessoa fácil de ler, de prever. Sabia que não podia guardar segredos. Nem os dos outros, nem os seus próprios. Sabia, mas relutava a acreditar.
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Até que um dia jogaram na cara.
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E ela chorou. Chorou pelo que insistiu em querer guardar. Chorou de vergonha. Chorou pelos velhos sonhos. Chorou pelos novos. Como poderá um sonho se tornar realidade se todos o conhecem? Sonhos não podem ser contados.
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A tragédia daquela lógica a fez chorar ainda mais. Poças, lagos, rios, mares. Água salgada que entra pela boca e afoga. Afoga. Afoga. Para que o ar se existe a água? Para que respirar se é possível se afogar? Para que pensar se é possível mecanizar? Para que viver se é possível morrer?
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Mas a morte é o que segue. Como enfrentar o que está por vir se não é possível suportar o agora? Mas como enfrentar sem fugir? Como viver sem sonhar?
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Até que contaram para ela que contar os sonhos não é um problema. Os outros não podem impedir as coisas de acontecerem se é ela quem as deseja. É tudo uma questão de desejar com força. Desejar com vida. Para que desperdiçar vida com o cotidiano se é possível ir além?
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Vivendo, ela aprendeu a sorrir. Sorrir de corpo inteiro. E foi sorrindo que ela aprendeu outra coisa. Ninguém guarda completamente os segredos... As pessoas os escondem. No olhar. No canto da boca. No movimento das mãos. Às vezes, num relance, esses segredos aparecem. Mas não há problema que os outros os vejam. Apenas quem está atento consegue notar. Apenas quem quer. Apenas quem se importa.
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Então ela aprendeu que ser óbvia é ser a pessoa mais feliz do mundo. E amou mais do que nunca aquele que a leu por completo.
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(textos em agradecimento àqueles que se importam)
Pequenas grandes coisas...
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Caramba...
ResponderExcluirÉ engraçado como aquilo que você discute com alguém, pode aparecer em um outro lugar quando você menos espera.
Claro, o que eu dialoguei hoje não é algo igual. Mas sim, sua essência é similar.
Concordo no ponto onde sonhos não devem ser contados. É uma teoria besta, mas válida para mim. Acho que assim ninguém cria tanta expectativa com relação a si...
E também, ser óbvio é a melhor coisa do mundo. Assim como ninguém criará uma expectativa com relação a sua pessoa, assim ninguém irá pensar além com relação a você. Isso dá uma certa vantagem, pois é neste caso que podemos surpreender alguém.
(Posso não ter entendido o post direito, mas...)
Vou contar tudo aos seus pais o que eu vi naquele sofá naquela sexta-feira treze e entre aqueles cabelos desgrenhados...
ResponderExcluirHuhuhu!
*odeio felicidade alheia*
apareça no msn para eu descobrir quem são os envolvidos nos textos!
ResponderExcluirright now!
e viu...
eu sei que no fundo não é só esse-e-xis-o. eu sempre soube...
"Embora eu saiba que você só ameaça e na hora do vamos ver amarela..."
ResponderExcluirVeremos...