Cotidiano...

Um ônibus, vários diálogos
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Mãe e filho no Barreirinha/São José em uma tarde de sexta-feira. Inicialmente achei o menino engraçadinho, uma dessas crianças em torno dos cinco anos, fofa e questionadora... Mas com o decorrer do percurso, aquele tom de voz, aquele volume, aquela insistência... A vontade que me deu foi de dar um safanão na mãe! Que mulher sem pulso...
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– Mãe, porque a luva da moça tá daquele jeito?
– Não sei filho. Acho que os dedos dela eram muito compridos e acabou que rasgou a luva... Ou talvez ela já fosse desse jeito.
– Hum...
– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiii! – pela primeira e única vez, eu me intrometo no diálogo.
– Emiliano! Larga o cabelo da moça!
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– Mãe, liga para o meu pai?
– Não posso filho. Não tenho o número.
– Como assim?
– Seu pai mudou e não passou o número novo pra mãe. Sem o número eu não posso ligar.
– Mas liga mesmo assim!
– Não dá, não tenho o número.
– Mas eu quero falar com ele.
– Já disse que não tenho o número.
(continua assim por mais uns cinco minutos)
– E eu posso ligar?
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– Mãe, e se eu for para a casa do pai e ele achar que meu sapo é de verdade e quiser jogar ele fora?
– Seu pai não vai fazer isso.
– Mas se ele achar que é de verdade?
– Ele não vai achar.
– Mas se ele disser “Emi, esse sapo é muito feio. Vou jogar ele fora”?
– Seu pai não vai fazer isso.
– Mas se ele fizer?
– Ele não vai fazer isso.
(continua assim por mais uns cinco minutos)
– Mas se ele fizer?
– Daí você diz para ele não fazer.
– Ah...
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(O menino já estava brincando com o tal sapo há certo tempo, sempre descrevendo as ações em voz alta e estridente, muito alta e muito estridente)
– Daí o sapo vem, pula aqui e quer a pulsela... E quer a pulsela! E quer a pulsela!
– Não, você não vai tirar a minha pulseira.
– Mas não sou eu, é o sapo quem quer!
– Mas você não vai tirar.
– Mas é o sapo quem quer!
– Não importa.
– Por quê?
– Porque vai acabar estragando.
– Mas o sapo precisa dela!
– Mas eu não vou emprestar.
– Mas não é pra mim, é para o sapo.
(continua assim por mais uns cinco minutos)
– Chega Emiliano!
– Mas ele precisa da pulsela.
– Já disse que chega, Emiliano. Chega desse sapo.
– Tudo bem... O sapo vai pular pela janela. Tá vendo, mãe? Olha mãe!
– Ah... Tadinho. Eu gostava do sapo.
– Sua burra! Eu só fingi que jogava ele pela janela.
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Aproveitando, incluo que você pode ouvir mais uma matéria minha para a Rádio Comunicação clicando aqui.

3 comentários:

  1. Eita menino chato...

    Se tal situação acontecesse aqui, certamente alguém iria falar no ato...

    E ainda por cima puxou o seu cabelo...

    Mas não deixou de ser engraçado...

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  2. Meu deus!
    esse menina é minha alma gêmea

    eu acho que sou o pai dele

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