Texto com parágrafo gigante...

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Uma coisa em que acredito é que o ideal é o equilíbrio. Em todos os sentidos. Em uma pessoa, por exemplo. Gente boazinha demais não merece a confiança de ninguém. Gente malvada, obviamente, também não. Gente que vive de cara fechada não é legal. Gente que ri demais é, talvez, pior ainda. Por isso, os seus amigos reais são aqueles que falam mal e falam mal dos outros, brincando ou de verdade, sem exageros. Pode reparar e cuidado com quem não se encaixar.
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Entretanto, o meu ideal de pessoas, de vida, de mundo é justamente isso, um ideal. É na ligeira falta de equilíbrio que o planeta Terra existe, é um contexto de provas e expiações. Sinceramente, eu gosto dos desequilíbrios. São eles que viram notícia, afinal de contas! São eles que tornam as pessoas únicas. São eles que, para o bem ou para o mal, preenchem a falta de sentido da existência. Confesse para você mesmo, qual seria a graça se tudo fosse ideal? Se você concorda comigo (pouca ou nenhuma), seja bem-vindo ao clube dos desequilibrados assumidos. Ou você quer assumir os outros e não você mesmo? Anônimos assumidos também podem entrar. Só não pode chamar a gente de loucos. Loucos são os outros!
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Agora que o clube está aberto retire-se se não quiser fazer parte do encontro. Vou iniciar a sessão.
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Oi. Meu nome é Renata (diga: “oi Renata”). Eu tenho vinte anos e sou desequilibrada assumida (faça cara de amigo compreensivo). Eu gosto de escrever, mas não gosto do que eu escrevo. Por isso eu faço jornalismo e não letras. Eu gosto de tirar fotos, mas não gosto de posar para elas. Depois eu fico triste porque não apareço em nenhuma. Eu gosto de dormir, mas gosto de deitar tarde e acordar cedo. Eu adoro desenhos, mas não sei desenhar e não consigo reunir paciência para aprender – em parte por não querer. Eu acho discurso improvisado o máximo, mas sempre que preciso falar em público esquematizo e penso bastante (dê um bocejo discreto, mas nem tanto). Eu estou escrevendo essa apresentação, mas nunca falaria assim sobre mim. É quase como escrever sobre a Renata em primeira pessoa ao invés de escrever sobre mim. Pelo menos não estou utilizando a terceira pessoa o que poderia indicar alguns tipos de desequilíbrios mais sérios, talvez (dê duas tossidas de leve). Ah, desculpa, estou mudando de assunto, aliás, virando de ponta cabeça o objetivo. Bom, eu sou concentrada e distraída, organizada e perdida, cabeluda e baixinha. Aliás, não me importo que façam piadinhas sobre a minha altura, mas sou realmente sensível quanto ao meu cabelo. Eu fico chateada quando não me dão oi, mas sempre me esqueço de dizer tchau. Eu adoro ler poesia modernista e concreta, mas a última que escrevi, há mais de um ano, tinha regras rígidas de composição. Eu sou quietinha até o momento que começo a falar demais (fale para a pessoa ao lado fingindo que abaixa o tom de voz: “como agora”). Eu dou indiretas, mas me ofendo ao recebê-las e ofendida eu sou uma mula teimosa que não assume o erro. Eu vivo o presente para o futuro, mas sempre chorando o passado. Eu não acredito em amor à primeira vista, mas acredito em “feitos um para o outro”. Eu não acredito em santos, mas tinha uma Santa Rita de Cássia na carteira. Tirei porque, embora não seja supersticiosa, meu vô disse que moça solteira devota de Santa Rita não casa. Eu quero morar sozinha e quero casar e ter filhos. Eu faço tudo o que faço em nome de um único objetivo. Esse objetivo não vai se realizar porque eu faço tudo o que eu faço. Resumindo, sou uma desequilibrada assumida e a única coisa congruente (adoro essa palavra) que fiz foi desligar o telefone na cara de alguém que disse: “você precisa provar que é normal”.
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Fim da sessão.

8 comentários:

  1. Re, eu amo vc!
    Se vc fosse um pouco mais máscula, eu te dava um beijo na boca!!! (viu, o seu frágil 1,50 metro serviu para algo: vc escapou desta vez.)

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  2. ola companheira de aula :D

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  3. Engraçado como as coisas chegam até nós... Estava pensando justamente no equilíbrio, quando do nada, vejo o seu post... E isso está se tornando cada vez mais frequente comigo...

    Enfim...

    Gostei da sua auto-definição. Digo que fiquei surpreso, pois nunca vi você fazer algo assim. Mas por início, você ainda está viva ( :P ).

    Muitas das coisas que você disse eu já sei, porém o fato da surpresa é que você foi sincera ao dizer de si mesma. Digo que é raro tais coisas ocorrerem...

    E ultimamente tem elevado um pouco o espírito...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. * - Saiu dupla a postagem, por isto a exclusão...

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  6. (palmas!!)

    Oii.. tá, você não me conhece, então é bom eu me apresentar aqui..
    Eu sou amiga da Marília (da antiga cidade-fastama em que ela morava...). Vi seu comentário no blog dela, não me aguentei de curiosidade, e vim dar uma espiadinha aqui..
    E... confesso que adorei!!
    Acho que faço parte do clube dos desequilibrados.. rsrs..
    E... Jesus, como você escreve bem!!!
    Muito gostoso ler a sua apresentação.

    te cuida!
    =**

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  7. ah!
    que bom que gostou do poema e se indentificou com todas aquelas coisas...
    é bom saber que não sou a única sonhadora do mundo!

    eu vou te linkar lá, tá bem?
    aí sempre venho aqui te dar uma visitinha^^


    =**

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  8. Ou seja, vc é igual a todo mundo. Mas pra não ficar um mundo sem graça, vc tem suas particularidades.

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