Cartaz do filme "O Assalto ao Trem Pagador", clássico do cinema nacional
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Eu confesso que demorei a me apaixonar verdadeiramente pelo cinema. Entrei numa sala pela primeira vez aos sete anos. Gostei do filme, gostei de estar ali, gostei de tudo. Mas demorei a voltar.
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Foi durante o ensino médio que o mero “gostar de ver um filme” passou a ser “gostar de cinema”. A troca do passatempo pelo apreço à arte veio aos poucos, mas meu pequeno refinamento já havia adquirido seu próprio jeito de ser na época da última Mostra Interdisciplinar de que participei. Às turmas de segundo ano, era reservado o ginásio. Elas, por tradição, são o destaque da Mostra. Têm o projeto mais complexo, bem desenvolvido e, teoricamente, bem executado. O tema tão esperado me surpreendeu quando veio: trem. Quatro letras sem graça e nada mais.
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Minha equipe ficou responsável por montar um stand sobre cinema. Eu estava animada, afinal, levava – como ainda levo – todas as sensações descritas por Lisbela muito a sério[1] e com visível paixão. Entretanto, eu não via propósito naquele stand. Claro, eu sabia que o primeiro filme foi “Chegada de um trem na estação” e que o público saiu correndo quando viu, também sabia que os filmes de faroeste freqüentemente contam com a presença de trens e, bem, nessa parte da pesquisa eu me apaixonei pelo Clint (Eastwood para os não-íntimos) e o objetivo da pesquisa deixou de ser um problema.
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A pesquisa foi árdua. Tanto que, até hoje, quando surge um trem a minha atenção se aguça, tudo assume uma significância maior, e me sinto alguém especial na sala de cinema, alguém que enxerga mais que os outros, como se apenas eu soubesse de um certo segredo. Creio que agora, com meus conhecimentos sobre cinema mais maduros e menos afoitos (veja bem, meu querido leitor, já se passaram três longos anos) eu poderia fazer um trabalho mais elaborado e menos raso. Afinal, apesar da minha equipe ter reunido muito material, nos resumimos a trabalhar com base nas imagens em si, nas aparições de trens na tela e, infelizmente, o real significado, o símbolo representado pelo trem permaneceu oculto.
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O trem é central, essencial. Ele é mágico para o público infantil (O Expresso Polar), romântico para os apaixonados (Antes do Amanhecer), cruel para não deixar a dor ser esquecida (A Lista de Schindler), perigoso para os encrenqueiros (De Volta Para o Futuro – Parte 3), alucinante para os que curtem adrenalina (Missão Impossível), solução para os desesperados (Anna Karênina), tensão para os aficcionados (Matrix), além de ser o meio de transporte que leva os personagens até sua história e, eventualmente, até os busca (O Sorriso de Monalisa). O trem pode ser personagem ou cenário, chamativo ou discreto. Ele não ri, não chora, não interpreta, mas emociona. Chego a pensar que se o Brasil tivesse mais e melhores trens, faria mais e melhores filmes.
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Em um texto chamado “A Mulher Desaparece no Trem da Ciotat”, François Truffaut fala sobre cinema. Ele concorda com Hitchcock e sua comparação entre o filme e o trajeto de um trem. Truffaut finaliza o texto expondo a diferença entre um final melancólico e um happy ending, uma diferença simples, uma mera inversão. Eu, por minha vez, termino afirmando não ser grande conhecedora dessas pequenas sutilezas e não me sentindo segura para discutir idéias hitchcokianas a fundo. Acho que preciso andar mais de trem.
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[1] "A luz vai apagando devagarzinho. O mundo lá fora vai apagando devagarzinho. Os olhos da gente vão se abrindo. Daqui a pouco, a gente não vai nem lembrar que está aqui..." – Do filme “Lisbela e o Prisioneiro”, direção de Guel Arraes.

Trens... Taí uma coisa na qual eu nunca reparo, seja na vida ou seja no cinema. Acho que depois do seu post irei reparar mais.
ResponderExcluirO meu conhecimento de cinema se resume às melhores mortes, melhores assassinos, melhores cenas de estripamento, degolamento ou esquartejamento e essas sutilezas que formam a minha pequena mente doentia. Infelizmente, não me considero uma cinéfila. Ainda tô na fase do "gosto de ver um filme". Um não, vários. (:
Beijo, Rê!
Realmente nunca parei para reparar o seu significado...
ResponderExcluirO meu gosto é bem diversificado no cinema...porém tenho aquele jeito de sempre julgar "o filme pela capa"...na maioria das vezes, acerto.
Agora sempre, quando vejo nos filmes, um trem, eu vejo mais em cenas românticas, ou em reencontros. É legal, dá aquele ar de que o distante está sempre perto, ou coisa similar.
Em "Assassinato no Expresso do Oriente", feito a partir do livro da Agatha Christie, ocorre um assassinato no trem =D E "Na Linha do Trem", protagonizado por Lance Bass, seu personagem apaixona-se por uma mulher que está no mesmo trem que ele =P
ResponderExcluirBjão!!