Aproveitando enquanto ainda é julho...

A concorrência chegou ao cinema
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Julho não começou com novidades, mas terminou como um mês marcante para quem acompanha o jornalismo impresso especializado em cinema.
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Quem mora no Rio e São Paulo teve o privilégio de ver a revista Movie, que teve seu número zero encartado na EGW (ex-EGM, ou quase isso). Essa novidade, infelizmente, não chegou até mim, então vou esperar até setembro – quando a número um deve alcançar as bancas do resto do país.
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A Movie é um projeto de um antigo editor-chefe da revista SET, André Forastieri. Pelo site (movie.tv.br), já dá para entender um pouco o projeto: cinema na movie tem tudo a ver com tecnologia e televisão. O mais recente ex-editor da SET, Roberto Sadovski, de acordo com seu próprio twitter, está aprovando o projeto e até fez uma colaboração para o site.
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Falando na SET... A capa postada em primeira mão no orkut assustou os leitores! E não só porque o tema é o novo filme de Sam Raimi, "Arrasta-me para o Inferno", mas pela qualidade gráfica mesmo! Os fãs/leitores da revista fizeram sugestões e a equipe mudou algumas coisas, embora o resultado final não seja uma capa bonita, melhorou bastante.
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Pessoalmente, acho legal os leitores poderem participar ativamente de uma publicação, mas o detalhe é que quando essa história toda começou já era julho! A nova equipe, que assumiu a revista após a falência da editora Peixes, já havia atrasado tanto a edição de maio que ela saiu em junho. O novo publisher Mario Marques alegou na época que foi um ajuste de cronograma, mas ninguém esperava um novo atraso. A festa de lançamento (sim, exatamente como a Auto Estima faz) aconteceu na última semana do mês, mais ou menos na mesma época que a revista chegou às bancas curitibanas.
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Enquanto Mario Marques e Roberto Sadovski trocam farpas via orkut, o primeiro na comunidade “Nova revista SET” e o segunda na comunidade “Revista SET”, um grupo de jornalistas saídos da SET (na liderança: Ricardo Matsumoto e Suzana Uchôa Itiberê) lançam a Preview. Ela chegou às bancas na metade de julho e eu aproveitei para comprar junto com a minha SET. Na capa, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", algo que, sem dúvida, a antiga SET teria feito... É impossível não comparar as revistas.
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Li primeiro a Preview (fiquei com medo de abrir a SET, embora o número anterior estivesse apresentável). Ela é, basicamente, a SET de sempre com alguns ecos do passado, como o calendário, e algumas coisas faltando, nada exatamente necessário, como a parte de música – uma das primeiras coisas a serem extirpadas na nova SET.
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Os textos que eu me acostumei a ler na SET estavam lá, o que me faz ter uma simpatia logo de cara, mas a inexperiência da equipe é visível. As entrevistas são interessantes mais pela escolha dos entrevistados que por mérito dos entrevistadores que fizeram perguntas fáceis e até ingênuas em alguns casos. Por sua vez, as reportagens estão ótimas e os assuntos escolhidos mostram que a equipe sabe o que está fazendo e aonde quer chegar. Destaco duas: “Fogo Contra Fogo”, sobre "Inimigos Públicos" e filmes de gângster que fizeram história; e “Revolução Francesa”, um painel sobre os principais autores do cinema francês.
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Já na matéria da capa, lembrei um pouco dos textos feitos para Jornal Comunicação impresso: um grande número de fonte, enfoque um tanto quanto amplo e muitas boas intenções. É quase como ver uma SET bebê. Isso resume bem a revista, um projeto simples, mas que pode ser considerado ousado para a Sampa Editora, mais conhecida por suas revistas de artesanato. Indico para quem está com muitas saudades da SET e acredito que tem potencial para seguir adiante.
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Finalizada a Preview, abri a revista SET. Eu, definitivamente, não estava preparada para o novo projeto gráfico. Na revista de maio/junho, o projeto anterior havia sido mantido, mas com erros graves de contraste de cores que prejudicavam a legibilidade e me irritavam. Nessa revista, o conteúdo mais conservador é traduzido e acentuado nas páginas. A matéria de capa é realmente ótima. Carlos Helí de Almeida realmente merece o editorial que Mario Marques lhe dedicou. Meu único “mas” fica para a lista de 100 filmes de terror que surge após a matéria e é um tanto quanto cansativa, talvez por eu não ser fã do gênero.
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O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi o texto “Toda Nudez será Editada”. A matéria expressa um saudosismo um tanto quanto inusitado. É óbvio que existe um grande público interessado em ver mulheres bonitas semi (ou totalmente) nuas no cinema, mas o autor do texto parece acreditar que essa é a real identidade do cinema nacional e que deve ser mais acentuada. Bom, novamente, eu não sou esse tipo de público.
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Esses textos mostram que Mario Marques está cumprindo o que escreve. No orkut, ele disse que a SET não iria se pautar basicamente pelas distribuidoras, assim, os principais textos são reportagens frias, embora a revista não tenha deixado de tratar dos principais lançamentos do mês. Sem o humor da antiga equipe – basta comparar os textos sobre o novo filme de Sacha Baron Cohen publicados na SET e na Preview –, mas com razoável competência.
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Acredito que a nova SET ainda procura sua identidade. Ela tenta recuperar um público perdido de dez anos atrás (antes da era Sadovski) ou até mais, mas não sabe exatamente como chegar até ele. Além disso, as tentativas de diálogo mostram que a equipe não quer perder aquilo que foi conquistado por Sadovski, Salém, Matsumoto e companhia. Isso faz com que seu futuro seja talvez até mais incerto que o da Preview, da Movie e da ________.
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Sim, existe mais uma revista. Embora Sadovski tenha colaborado com a Movie, gravado o teaser do Beat It para a MTV e esteja atualizando seu blog a todo vapor, ele não para de afirmar que em breve lançará a sua revista. O nome ninguém sabe e a aura é de mistério, mas a promessa é para logo. Pelo jeito, terei que economizar bastante para dar conta de comprar essas revistas todas. Talvez eu abandone alguma e, triste, o mais provável é que seja a minha tão querida revista SET.

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