Coisas soltas, escritas a pouco ou a muito tempo. Nem lembro meu contexto emocional durante alguns. Lembro das inspirações. Muitas coisas que eu vi em ônibus e algumas coisas de outros momentos. Uns mais inspirados, outros nem tanto.
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Fragmentos
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Estou cansada. Cansada da voz que domina a sala. Cansada da reverberação que dói nos ouvidos. Cansada dos assuntos. Cansada das pessoas. Cansada de agrupar, contrastar, alinhar e organizar. Cansada da repetição.
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Sorriu no conforto da cama. O pesado edredon não a deixava levantar. Ela pouco lutava para resistir. O despertador já tocou há algum tempo. Mas o que fazer? Ir, não ir, ir, não ir, ir, não ir. “Vou!”. E o pensamento a levanta. Só então percebe que o celular tocava mudo. Era sua razão que a chamava vinda de algum lugar distante.
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Ele tremia de frio. Eram duas da manhã e a água estava gelada. O que estava fazendo lá fora? Nem ele sabia. Queria entrar, mas não podia por algum motivo desconhecido. A chuva caía. A água que batia no chão respingava para todos os lados. Da metade da canela para baixo, a calça estava encharcada. Mesmo assim, ele continuava firme. Até andava de um lado para o outro e demonstrava impaciência, mas não entraria até o amanhecer.
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Estou cansada. Cansada da voz que domina a sala. Cansada da reverberação que dói nos ouvidos. Cansada dos assuntos. Cansada das pessoas. Cansada de agrupar, contrastar, alinhar e organizar. Cansada da repetição.
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Sorriu no conforto da cama. O pesado edredon não a deixava levantar. Ela pouco lutava para resistir. O despertador já tocou há algum tempo. Mas o que fazer? Ir, não ir, ir, não ir, ir, não ir. “Vou!”. E o pensamento a levanta. Só então percebe que o celular tocava mudo. Era sua razão que a chamava vinda de algum lugar distante.
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Ele tremia de frio. Eram duas da manhã e a água estava gelada. O que estava fazendo lá fora? Nem ele sabia. Queria entrar, mas não podia por algum motivo desconhecido. A chuva caía. A água que batia no chão respingava para todos os lados. Da metade da canela para baixo, a calça estava encharcada. Mesmo assim, ele continuava firme. Até andava de um lado para o outro e demonstrava impaciência, mas não entraria até o amanhecer.
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Os diálogos altos geram reclamações no mesmo nível. “Meu amigo Requião é que me deu”. “Essa sua blusa é muito bonita. Quando você cansar dela, você me dá?”. E do outro lado: “Outro dia meu marido queria dar carona pra ela, mas eu fiz uma cara. Daí ele disse que vai esperar uma próxima oportunidade”. No meio está uma senhora respeitável com dois brincões dourados. Entre a amiga do ônibus “Falo alto sim!” e a nora. Ao redor, tanta gente que o olhar de tristeza passa despercebido. Amanhã ela também falará alto. “É como diz a minha netinha: ‘É tão bonitinho que dá até pena de matar’”.
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Fazia tempo que as duas não se viam. Antes, elas se encontravam quase diariamente, com um sentimento intenso. Elas não eram aparentadas e muito menos amigas. Havia também uma grande diferença de idade. Uma era rapariga pequena, de olhos grandes e curiosos. A outra era velha, larga, com humor mutável. Entre as duas havia uma rivalidade inexplicável. Ambas andavam com o mesmo ônibus, no mesmo horário e desciam no mesmo ponto. A velha ficava de cara fechada quando a via. A menina sentia um peso, um desânimo. Há quase um ano, o dia-a-dia as separava. Às vezes uma perdia o ônibus por pouco e se deparava com a outra na janelinha. Em outros dias, espremida perto da porta, a outra observava a uma em pé, no terminal. Naquele dia, elas se ajudaram. Não uma ajudando a outra ou vice-versa; elas se ajudaram. E só então notaram aquele ódio sem razão.
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Tenho um problema com Carlos Heitor Cony. Acho que é culpa da Ana Maria Braga. Eu gostava dela, sério. Assistia Note e Anote quase todos os dias. Naquele tempo bom em que eu estudava de manhã e podia assistir televisão a tarde. Mas aquela Ana Maria Braga da Globo era diferente. Não era simpática com seus convidados e engraçada. Era uma anfitriã metida e uma apresentadora dominadora. Quando ela lia os textos de Cony olhando para a câmera e quase chorando, o que eu sentia era um roubo. Roubo de tempo, de atenção, de programação. Mas não posso julgar o autor. Afinal, a leitura da Ana Maria Braga nunca será a minha, ainda mais depois que ela se rendeu às uvas red globe. Quero Cony como uva verde.
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Hoje uma canadense salvou a minha vida. Ok, nem tanto. Mas eu agradeci com um “thanks” e sorri. Achei a situação meio idiota. Ela continuou como se nada tivesse acontecido. Ai, essas pessoas que não entendem “American Beauty”...
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Cláudia tinha um amiguinho. Um dia ela estava doentinha, cheia de dor e com um grande mal-estar. Ela não queria ficar na cama e resolveu ir brincar. Por pura diversão, o amiguinho chutava de leve o pé de Cláudia. Ela, irritadinha, queria se defender, chutar, bater, gritar. De certo, ele estava fazendo isso de propósito, mas ele ía ver... Só que Cláudia não conseguia tirar o pédo chão. Ela foi forçada a se acalmar e explicar que não podia se defender. Ao fazer isso, você percebe que Cláudia e seu amiguinho têm 20 anos e não 5. O único problema é a idade que ele acha que tem.
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De repente me bateu uma vontade de fazer um barquinho de papel. Arranquei uma folha do caderno e fiz. Por um momento senti certa culpa desse desejo, mas a Fran me insentivou e isso se dissipou (viu Fran? Culpa sua). Fiz. Agora está embaixo do caderno. Bonitinho, listradinho, porém escondido. Minha metáfora e, justamente por ser meu, meu oposto. Paradoxo de papel.
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Os olhos brilhavam de medo. Tanta gente, tantos gritos, tantos animais. Como a situação chegou nesse ponto? Os olhos não querem acreditar. Apenas estão surpresos com tudo isso. Ninguém mais se importa. Para onde foram os outros olhos? Eles não brilham mais... Apenas enxergam e censuram. Dizem aos olhos que eles são inocentes. Mas eles apenas mantiveram a capacidade de se surpreender com o mundo. Isso é errado?
Os diálogos altos geram reclamações no mesmo nível. “Meu amigo Requião é que me deu”. “Essa sua blusa é muito bonita. Quando você cansar dela, você me dá?”. E do outro lado: “Outro dia meu marido queria dar carona pra ela, mas eu fiz uma cara. Daí ele disse que vai esperar uma próxima oportunidade”. No meio está uma senhora respeitável com dois brincões dourados. Entre a amiga do ônibus “Falo alto sim!” e a nora. Ao redor, tanta gente que o olhar de tristeza passa despercebido. Amanhã ela também falará alto. “É como diz a minha netinha: ‘É tão bonitinho que dá até pena de matar’”.
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Fazia tempo que as duas não se viam. Antes, elas se encontravam quase diariamente, com um sentimento intenso. Elas não eram aparentadas e muito menos amigas. Havia também uma grande diferença de idade. Uma era rapariga pequena, de olhos grandes e curiosos. A outra era velha, larga, com humor mutável. Entre as duas havia uma rivalidade inexplicável. Ambas andavam com o mesmo ônibus, no mesmo horário e desciam no mesmo ponto. A velha ficava de cara fechada quando a via. A menina sentia um peso, um desânimo. Há quase um ano, o dia-a-dia as separava. Às vezes uma perdia o ônibus por pouco e se deparava com a outra na janelinha. Em outros dias, espremida perto da porta, a outra observava a uma em pé, no terminal. Naquele dia, elas se ajudaram. Não uma ajudando a outra ou vice-versa; elas se ajudaram. E só então notaram aquele ódio sem razão.
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Tenho um problema com Carlos Heitor Cony. Acho que é culpa da Ana Maria Braga. Eu gostava dela, sério. Assistia Note e Anote quase todos os dias. Naquele tempo bom em que eu estudava de manhã e podia assistir televisão a tarde. Mas aquela Ana Maria Braga da Globo era diferente. Não era simpática com seus convidados e engraçada. Era uma anfitriã metida e uma apresentadora dominadora. Quando ela lia os textos de Cony olhando para a câmera e quase chorando, o que eu sentia era um roubo. Roubo de tempo, de atenção, de programação. Mas não posso julgar o autor. Afinal, a leitura da Ana Maria Braga nunca será a minha, ainda mais depois que ela se rendeu às uvas red globe. Quero Cony como uva verde.
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Hoje uma canadense salvou a minha vida. Ok, nem tanto. Mas eu agradeci com um “thanks” e sorri. Achei a situação meio idiota. Ela continuou como se nada tivesse acontecido. Ai, essas pessoas que não entendem “American Beauty”...
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Cláudia tinha um amiguinho. Um dia ela estava doentinha, cheia de dor e com um grande mal-estar. Ela não queria ficar na cama e resolveu ir brincar. Por pura diversão, o amiguinho chutava de leve o pé de Cláudia. Ela, irritadinha, queria se defender, chutar, bater, gritar. De certo, ele estava fazendo isso de propósito, mas ele ía ver... Só que Cláudia não conseguia tirar o pédo chão. Ela foi forçada a se acalmar e explicar que não podia se defender. Ao fazer isso, você percebe que Cláudia e seu amiguinho têm 20 anos e não 5. O único problema é a idade que ele acha que tem.
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De repente me bateu uma vontade de fazer um barquinho de papel. Arranquei uma folha do caderno e fiz. Por um momento senti certa culpa desse desejo, mas a Fran me insentivou e isso se dissipou (viu Fran? Culpa sua). Fiz. Agora está embaixo do caderno. Bonitinho, listradinho, porém escondido. Minha metáfora e, justamente por ser meu, meu oposto. Paradoxo de papel.
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Os olhos brilhavam de medo. Tanta gente, tantos gritos, tantos animais. Como a situação chegou nesse ponto? Os olhos não querem acreditar. Apenas estão surpresos com tudo isso. Ninguém mais se importa. Para onde foram os outros olhos? Eles não brilham mais... Apenas enxergam e censuram. Dizem aos olhos que eles são inocentes. Mas eles apenas mantiveram a capacidade de se surpreender com o mundo. Isso é errado?
Ando com minha mente, tão no "lost", quanto qualquer um que não sabe o que pensar...
ResponderExcluirMudanças, mudanças e mais mudanças...
Casos á parte... Percebo que as mudanças não ocorreram apenas comigo... Mas é normal - um dia nos acostumamos.
E não, não é errado deixar os olhos se surpreenderem com o mundo...