Texto escrito sem planejamento...

06/08/06
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Ultimamente tem acontecido algo curioso. Eu quero escrever e simplesmente não consigo. O que tenho não é medo de enfrentar a página em branco, não é falta de assunto, não é falta de tempo, não é falta de inspiração, não é medo de me expor demais. Eu não sei o que é. Já pensei que poderia ser cada uma das razões anteriores, mas não chega a ser exatamente nada daquilo.
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Talvez eu tenha escrito nos últimos dias. Sim. Eu escrevi alguma coisa. A questão é que tem sido pouco. Cheguei até a escrever uma carta, justo eu que cansei de cartas. Tive cartas não enviadas e não respondidas e cansei de cartas. Eu escrevi aquela carta e naquela época, alguns dias atrás, eu achava que não escrevia para não me expor. É verdade, eu ando mostrando muito de mim. Ando fazendo isso muito abertamente. Tenho saudades de quando eu podia simplesmente sentar na frente do computador e escrever sobre alguém como Clara, tão viva e tão sem vida, tão obviamente personagem.
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Escrevi, também, duas poesias. Poesias semelhantes em forma e conteúdo, porém reflexos – se é que se pode dizer assim – uma da outra. Sou plenamente consciente da qualidade sofrível de minhas poesias. Não nasci para poetisa. Entretanto, naquele dia, quase me senti por completo satisfeita. Foi bom escrever por escrever e deixar o texto fluir da forma como ele vinha, deixar as idéias guiarem a mão.
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Agora eu escrevo e não falo de nada. Vai ser ainda pior quando eu parar. Talvez ainda haja um jeito de escrever o que me atormenta, o que me alivia, o que me agrada, o que me entristece. Só não sei se sou capaz de me expressar simplesmente escrevendo. E não sei se um dia fui.
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Um pequeno comentário foi capaz de fazer com que eu diminuísse ainda mais a minha atenção nos outros para voltá-la contra mim mesma. Eu tenho me analisado constantemente. Eu percebi como já faz um certo tempo que exagero algo pequeno para tentar camuflar as coisas grandes. Não que eu já não tivesse reparado que eu faço isso. Só que tenho feito com uma freqüência que me desagrada – no mínimo três casos óbvios desde aquele que foi tão desesperado quanto, felizmente, inútil – e tenho convivido mais de perto com esses arroubos do que jamais teria feito.
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Só agora me veio a mente que há tempos não tenho um personagem novo para trabalhar. Não crio nenhum desde que... Bom, eu tenho uma noção desde quando e me assusta pensar que faz tanto tempo assim. Acho que desde os doze anos, quando tudo isso começou, eu nunca vivi um período tão longo sem novos personagens. Claro, eu coloquei esses personagens para preencherem uma certa lacuna e agora, tecnicamente, não precisaria mais deles. Mas eu sinto falta e, pensando bem, acho que preciso. Eu já achei que poderia acabar enlouquecendo, mas continuava para poder seguir. Agora eu sigo, talvez essa ajuda de antes (uma ajuda nociva, que me deixava tão sorumbática) não possa mais funcionar, mas eu a quero. Não sei se eu abandonaria a realidade para tê-la, mas eu a quero.
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Não, essa não é a razão porque não escrevo tanto quanto necessito. Talvez o que me fez parar com meus personagens – e eu sei bem o que é – também seja responsável por isso. É provável que sim. Eu não quero trocas, esse tipo de preço é muito alto e é mais do que eu posso bancar. Eu preciso dos meus escapes para continuar. Nesse pesadelo, meus escapes fugiram e, nessa fuga, foram somados àquilo do qual me protegiam. Ainda bem que, mesmo mal, eu escrevo. Assim um pouco se esvai e eu adio a troca entre meu mundo e o mundo onde vivo. Eu gostaria que eles nunca tivessem se tocado. Gostaria?

4 comentários:

  1. Oi!
    Tudo bem?
    Eu achei o endereço do seu blog no orkut da Poli...e fiquei super curiosa!Sabe, eu não me desapontei nem um pouco!Sabia que você escrevia coisas muito interessantes e inteligentes e que era sincera sobre o que escrevia também. Ah e quanto a não ter o que botar no papel...é assim mesmo...você escreve tanto e tão bem que às vezes não sabe nem sobre o que vai escrever mais...Mas continua que agora eu vou passar sempre por aqui!!
    Bom, e como não podia deixar de ser, quero agradecer por se lembrar de mim nos seus posts!
    Beijos.

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  2. Eu, ao contrário, tenho escrito muito... Mas nada que possa ser publicado...

    Cada dia que passa a gente acha mais coisas em comum, que mágico, não? Nem vou ficar falando nada aqui, mas saiba que estamos aí pro que vc precisar...

    Hoje, me desculpe, eu não tô nos meus melhores dias... Não tenho muito o que escrever... Nos vemos a noite, sim?
    Beijinhos!

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  3. Ah, sem comentários sobre escritas... é só ver o meu pseudo... É, acho que não sirvo pra escrever mesmo... Mas, bom, agora vou terminar o curso, ao menos =).

    Gostaria de ter a sua capacidade de escrita....

    Bjus!!

    P.S. Desculpe a demora excessiva!

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  4. Novamente enrolando...

    Texto longo...porém sempre bom.

    É chato quando nos sentimos vazios. Quando nós não temos palavras para expressarmos...

    Neste texto, senti que muitas coisas andam camufladas. Ainda demorei um tempo para entender o que cada frase quis dizer. O parágrafo 5 me deu esta impressão. Tenho todo o tempo para entender. De fato, a única demora minha, é de responder.

    No parágrafo 6, a impressão que deu é que, velhos hábitos estão deixando de existir. Porém são eles que nos definem. Devemos ser pacientes com tudo. Porém devemos ser ainda mais com nós mesmos.

    O último parágrafo me deu uma idéia de que, há uma fuga do mundo. Porém não é esse o real desejo. Para mim, o que ocorre é que deve-se existir a compreensão por parte deste mudo. Uma coisa é...só basta nós querermos. Com cautela.

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