Poema Tirado de uma Notícia de Jornal
JOÃO GOSTOSO era Carregador de feira-livre e morava no morro
da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manuel Bandeira
A Queda do Império Babilônico
Sucessor de Nabucodonosor nasceu em berço de ouro, teve uma vida dedicada a aprender como manter o dinheiro, o império da família, destino que veio como seu próprio nome.
Nos últimos anos de sua vida morou em um lugar curioso, de casas sem jardim, de barracos suspensos, o morro da Babilônia. Um local que nunca sonhou visitar, o pesadelo em sua essência.
Falhou na única missão a ele confiada, era um fracassado, perdeu mais do que possuía, ganhou apenas alcunha, João Gostoso, delicadeza dos novos vizinhos. “O cara aí se acha o rei do Babilonha, só puquê tem nome compricado, se acha o gostoso”, ainda era capaz de ouvir a voz da nojenta criatura vociferando em uma ladeira, do desgraçado morro, na cidade maravilhosa.
Na maravilha da cidade tinha um bar, tinha um bar chamado Vinte de Novembro. Já há muito derrubado de seu pedestal Sucessor é apenas João Gostoso, o rei do morro da Babilônia é ali freguês assíduo. Entra, canta, dança, bebe, bebe álcool e muito, sente a euforia, vive a depressão. Então João Gostoso cansa, cansa como fracassou aquela outra pessoa que habitou anteriormente aquele corpo, simplesmente cansa.
Alguns dias depois mais um indigente é enterrado, um homem, o qual foi encontrado boiando na lagoa Rodrigo de Freitas. Acabou-se assim João Gostoso, padecimento de um homem fraco que caiu e não se levantou.
Nenhuma lágrima rolou no barracão sem número onde morava esse homem, em nenhuma casa sem jardim, em nenhum barraco suspenso no morro da Babilônia pela morte do carregador de feira-livre João Gostoso, nem ali e nem em nenhum lugar.
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